Tente se lembrar da última vez que viu um país com uma listra roxa na bandeira. Não consegue? É porque não existe.
As bandeiras são uma forma clássica de representar um grupo. Ao longo da história, vários povos usaram panos e símbolos para se distinguirem uns dos outros. Com as primeiras monarquias, uma bandeira era necessidade inquestionável. Mas porque praticamente nenhuma tem a cor roxa?
Os primeiros usos de bandeiras datam de séculos atrás. Época medieval, pra especificar. Naquele período não haviam pigmentos sintéticos, as cores eram obtidas de fontes naturais. E a fonte natural do roxo era a mucosa de algumas espécies mediterrâneas de caracóis da família “Muricidae”. A extração do pigmento era especialidade da cidade fenícia de Tiro (atual região do Líbano). O problema era que pra produzir cerca de um grama da chamada “púrpura tíria”, eram necessários 10 mil caracóis. Essa discrepância tornou a tinta extremamente valiosa, ela valia três vezes a quantidade em ouro, basicamente. O roxo automaticamente se transformou em símbolo de realeza. Porém, nenhuma nação jamais pensaria em pagar tão caro pra tingir todas as suas bandeiras.
O glamour do roxo só se perdeu no século 19. O químico britânico William Perkin tentava sintetizar quinina, uma droga natural anti-malária, e acidentalmente descobriu uma mistura que, quando extraída com álcool, produzia uma substância num tom intenso de púrpura. O primeiro corante foi batizado de mauveína e patenteado por Perkin em 1856, quando ele tinha 18 anos.

Desde então, o roxo ficou muito mais acessível ao público. As bandeiras nacionais já estavam definidas, e nenhuma delas tinha adotado a cor. Com o passar do tempo, alguns países jovens colocaram o roxo em seus símbolos, ainda que de forma discreta. É o caso da Dominica (1978) e da Nicarágua (oficializada em 1908). Menção honrosa pra extinta Segunda República Espanhola (1931-1939). Algumas cidades, como São Carlos e Terra Roxa, ambas em São Paulo, também têm a cor nas bandeiras. Mas quando o assunto são nações, o roxo claramente não é uma tendência.