Aniversários

Aniversários

Aniversário vem do latim e basicamente significa “aquilo que se repete todos os anos”. Seja o aniversário de uma pessoa, de casamento, de namoro de uma empresa ou evento histórico, ele só ocorre uma vez a cada 365 (ou 366) dias. E eventos incomuns como esse são especiais; mas nem sempre foi assim. Eles já foram proibidos pela Igreja Católica, e nem sempre envolveram bolo. Nos próximos parágrafos você descobre não só a origem da comemoração e suas tradições, mas aprende um pouco sobre estatística e probabilidade e o porquê dos coreanos terem um ou dois anos a mais. Essa semana foi aniversário da página, e o conhecimento é nosso presente pra você! 

O nascimento das comemorações 

A comemoração mais antiga e similar aos aniversários atuais data do Antigo Egito. Num tempo onde a teocracia vigente se centralizava na figura do faraó, a data de sua coroação era celebrada por anos, pois acreditava-se que, naquele dia, ele nascia como um deus. 

Pulando algumas centenas de anos, de 3000 a.C. para 430 a.C., encontram-se as comemorações persas. Essas, muito mais parecidas com as atuais. A data de nascimento dos persas é descrita pelo historiador grego Heródoto como “o dia em que eles mais festejam”. O historiador ainda acrescentou: “nesse dia, põe as melhores iguarias à mesa […], comem poucos alimentos sólidos, mas muitas gulodices na sobremesa”. Algo bem semelhante as buffets de festas contemporâneas. 

O costume então chegou a Roma, onde era inicialmente reservado ao aniversário do imperador. Depois se estendeu aos senadores e outros homens poderosos, principalmente quando atingiam a idade de cinquenta anos. 

As festividades demorariam ainda mais para alcançar a plebe, já que a Igreja Católica proibiu a comemoração de aniversários. A prática era considerada pagã, e um símbolo de egoísmo. Apenas no século 4 a Igreja daria o braço a torcer, ela retirou a proibição e entrou na festa, oficializando a comemoração do aniversário de Cristo como uma festividade cristã, o Natal. 

Daí em diante, as comemorações se espalharam pela Europa e se estabeleceram como gerador de expectativa anual na vida das pessoas. Elas ganharam características específicas de acordo com o povo, e diferentes tradições foram incorporadas. Porém, sempre centradas na comemoração de mais um ano de vida. 

E vai rolar a festa! 

Algumas festas têm refrigerantes, outras, suco; algumas tem bolinhas de queijo e coxinhas, mas há quem prefira comer pizza, lanches naturais ou pastéis. Certas festas apostam em música, dança e curtição; enquanto outras se atêm à fraternidade de um bom jogo de tabuleiro. Apesar das diferenças, todas as festas de aniversário culminam em um bolo e velas sendo sopradas. Essa similaridade ancestral é tradição em todo o mundo, e mais antiga do que se imagina. Faça um pedido! E se ele foi “aprender sobre a origem desses costumes”, ele se realizou. 

A combinação “bolos e velas” já era comum para os gregos, mesmo que com outra finalidade. Em homenagens e oferendas à deusa Ártemis, pessoas iam até seu templo e lá deixavam um bolo circular com uma vela em cima para assemelhá-lo à Lua cheia, uma das formas em que a deusa se manifesta. 

As comemorações romanas também envolviam bolos. Porém, elas eram restritas a pessoas importantes. As festas e bolos só se tornaram realmente populares a partir do século 15, quando padeiros alemães tiveram a ideia de vender bolos para aniversariantes, especialmente crianças. Os bolos eram pequenos, densos e não tão doces quanto os atuais; além do açúcar ser um ingrediente caro, o uso do fermento biológico transformava o “bolo” em praticamente um pão. Mesmo assim, os tais bolos eram um sucesso, e protagonizam as festas infantis, chamadas de Kinderfest. Elas também reviveram a tradição das velas. Durante a Kinderfest, acendia-se uma vela para cada ano que a criança tinha; vela que deveria ser mantida acessa até o final, pois elas supostamente afastariam maus espíritos. 

Só depois da Revolução Industrial que os preços caíram, enquanto os bolos cresciam. Os ingredientes se tornaram mais acessíveis e os bolos mais baratos; e a invenção do fermento químico deixou os bolos mais parecidos com os atuais em termos de densidade e tamanho. 

Desde então, a indústria festiva se renovou cada vez mais. Coberturas coloridas feitas com beterraba ou salsa foram as primeiras no ramo. E a praticidade falou mais alto quando surgiram as primeiras misturas para bolo na metade dos anos 1900. As festas passaram por inúmeras mudanças, mas o bolo e as velas são uma tradição consagrada que não vai embora tão cedo. 

A matemática dos aniversários 

“O número mínimo de pessoas que deve haver em um grupo para que possamos garantir que nele há pelo menos três pessoas nascidas no mesmo dia da semana é igual a: a) 21. b) 20. c) 15. d) 14. “ 

Essa questão caiu na prova da Unicamp 2015 e a resposta pra ela é 15. Mas esse não é o problema matemático do assunto. 

Invés disso, imagine uma sala com 23 pessoas. Levando em conta que elas nasceram em anos não bissextos, não há gêmeos nem irmãos e todas as datas são equiprováveis, a chance de duas delas compartilharem a mesma data de aniversário é de 50%. Ou elas compartilham a data ou não. Piadas a parte, a resposta ainda é 50%. Esse problema ficou conhecido como o “paradoxo do aniversário”. É possível, inclusive, demonstrar o caminho até esse número. 

Esse é um dos casos do ramo matemático da Combinatória em que é mais vantajoso pensar no oposto. Como os eventos tem caráter complementar (duas pessoas ou fazem aniversário no mesmo dia ou não, não há outra possibilidade), a soma de suas probabilidades dever ser igual a 100%. Portanto, calcular a chance de duas pessoas terem o mesmo aniversário é o mesmo que calcular a chance de duas pessoas não terem o mesmo aniversário e subtrair esse número de 100%. 

O cálculo da probabilidade de um evento é basicamente a divisão da ação que corresponde ao evento sobre todas as ações possíveis. Por exemplo, a chance de se tirar cinco num dado é de 1/6, pois existem seis números, mas apenas um cinco; já a chance de se escolher uma vogal dentro do alfabeto é de 5/26, pois existem 5 vogais e 26 letras. 

Sendo assim, uma primeira pessoa pode “escolher” qualquer data dos 365 dias do ano como seu aniversário; e digamos que seja hoje (feliz aniversário!). Se o objetivo é não repetir datas, a segunda pessoa só não pode escolher 29 de janeiro e lhe restam 364 dias, e a probabilidade dela escolher um dia diferente é de 364/365, 364 dias que correspondem ao evento, sobre todos os dias do ano. Repetindo o raciocínio com o resto das pessoas do problema, a 23° pessoa terá 343 datas em que seu aniversário será único, e uma probabilidade de 343/365. A conta realizada será a multiplicação de todas as probabilidades individuais das 23 pessoas: 365/365 x 364/365 x 363/365 … x 344/365 x 343/365. Essa conta gigantesca dá como resultado aproximado 0,4927, ou 49,3% de chance de ninguém compartilhar o mesmo aniversário. Pensando ao contrário, existe 50,7% de chance de, entre 23 pessoas, duas soprarem as velas na mesma data. 

Considerando um número tão pequeno de pessoas, comparado a tantos dias do ano, 50% é uma probabilidade aparentemente alta. Essa suposição é reflexo da dificuldade do cérebro humano em compreender intuitivamente crescimentos não lineares. Por exemplo, em um grupo com 4 pessoas, podem-se formar 6 pares; já com 12, esse número aumenta pra 66; com 23, são 253 pares de datas com chance de serem iguais. 

De forma semelhante, com os 100 seguidores do nosso Instagram, a probabilidade de que dois façam aniversário no mesmo dia é de 99,99997%, uma chance garantida, mesmo com apenas um terço da quantidade de dias em um ano em pessoas. 

Créditos: BBC News Brasil

Contudo, apesar desse cálculo fiel, a realidade é sujeita a tendências desconsideradas no ramo da Combinatória. Os nascimentos não são distribuídos igualmente entre os meses, por exemplo. E principalmente no Brasil. Em dados levantados pela BBC News Brasil com base no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde, a diferença entre o mês com mais nascimentos e o com menos é de 17% a mais. Os dados, referentes ao período 1997-2017, foram analisados pela bióloga e matemática americana Micaela Elvira Martines, que relatou ter ficado “extremamente surpresa” com a forte sazonalidade dos nascimentos por aqui. Essa sazonalidade é justamente o que desequilibra a distribuição e, até agora, não há explicações científicas convincentes para o fenômeno.

A análise das informações permite inferir que, ao contrário do achismo popular, os tais “filhos do carnaval” não representam um padrão tão expressivo assim. Na verdade, novembro é o segundo mês com menor natalidade, perde apenas para dezembro, seu sucessor. O título de campeão de aniversários fica com março, em um pódio também ocupado por abril e maio, respectivamente. Os “filhos do dia dos namorados” são, portanto, uma realidade estatisticamente mais aceitável. 

Feliz Ano Novo! 

Ano novo é clima de celebração e renovação. As pessoas comemoram a virada e esperam por um ano melhor. Elas se abraçam, festejam e todos ficam um ano mais velhos, literalmente. 

Na Coreia do Sul, apesar da data de aniversário individual ser importante, ela não é mais do qu o Ano Novo, quando todos coletivamente somam um a suas idades, independente do mês de nascimento. Alguns aniversários singulares ainda são comemorados. O aniversário de um ano e o de sessenta (na concepção ocidental) representam grandes marcos, pois celebram a saúde e longevidade do aniversariante. 

Funciona assim: quando um bebê nasce, ele está em seu primeiro ano de vida e é considerado como tendo um ano de idade. Ele entrará em seu segundo ano assim que passar a virada, e terá dois anos de idade. Ou seja, alguém nascido em 8 de dezembro terá apenas 24 dias no Brasil, mas dois anos na Coreia do Sul. 

O costume se originou na China e já foi predominante na região. O sistema caiu em desuso na própria China e foi abandonado no Japão após uma lei adotar o sistema internacional. Contudo, a Coreia continua com esse formato até os dias atuais. 

Quando estrangeiros perguntam suas idades, os coreanos respondem com dois números: a “idade internacional” e a “idade coreana”, que pode chegar a até dois anos a mais. Para fins cotidianos, a segunda basta, enquanto a primeira dá conta das questões legais. Porém, certas leis relacionadas a limites e mínimas de idade ainda julgam duas pessoas nascidas em diferentes meses do mesmo ano como de mesma idade, influência do sistema tradicional.  Algumas propostas de leis já buscaram padronizar o conceito de idade com o resto do mundo. Mesmo que sejam ratificadas, os costumes e tradições não mudaram da hora pro dia. 

Aniversários são importantes. Eles são marcos que dividem a duração da vida e permitem resgatar memórias (quem nunca disse “quando eu tinha X anos” que atire a primeira pedra). Aniversários simbolizam o crescimento e o caminho para a maturidade, por mais que muitas vezes não nos sintamos mais velhos. Da próxima vez que alguém ironizar alegando que “aniversários são apenas uma comemoração vazia de mais uma translação da Terra e não significam nada de mais na vã ilusão que é a passagem de tempo”, olhe-a no fundo dos olhos e diga: “para de ser um chato e aproveita a festa”. Assopre as velinhas sem medo, não é todo dia que se faz aniversário.

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